Trabalhos Desenvolvidos

6 de outubro de 2012

Lançamento do livro 'Desacreditações Recreativas' de José Otávio Carlomagno na 28ª Feira do Livro de Caxias do Sul


José Otávio, esse paulista gaúcho, é uma das mais gratas surpresas literárias de um tempo tão preocupado com a objetividade, os resultados, a uniformização da experiência e a constrição falsamente universal do mundo do espetáculo. Como quem não quer nada, ele vem chegando. A poesia é a única coisa que não dá nada pra ninguém – já dizia Paulo Leminski – o poeta (homem mundano com o coração aos solavancos) no fogo cruzado entre ser violentado pela linguagem (páthos cruel da condição humana) e transformá-la, torcê-la, secá-la no varal das coisas escondidas. 

Nesse “Desacreditações Recreativas”, Carlomagno explora aspectos temáticos recorrentes em sua produção poética anterior, como, por exemplo, a preocupação e interação com as forças do cotidiano (a vida ordinária, as pequenas coisas do dia-a-dia), interrogações sobre questões sociais da atualidade (o apedrejamento de mulheres, o Hubble, o câncer), a natureza (com um olhar que faz uso de conhecimento das ciências naturais), aproximações com a filosofia (tanto a ocidental quanto o pensamento de certas vertentes orientais), entre outros. Mas sem deixar de amolar a faca ambígua da ironia – ora falando dele (Sempre perco o azimute/ em horas banais), ora mirando o mundo (Deve ser por isso/ que ninguém liga para/ as epidemias da África.)

Esses poemas sem título de José – longe de escamoteá-las ou negá-las – assumem suas influências e fontes, entre elas a melhor tradição modernista brasileira (poemas aforísticos, linguagem coloquial, tom por vezes próximo à prosa, temática múltipla com certa preocupação social etc.), conversando, todavia, com as vanguardas do século XX (o que denota aí a leitura dos surrealistas e dos concretistas – por exemplo). Em se tratando de ritmo e canto, o volume alcança unidade geral que pressupõe, como já dito, a existência do leitor qualificado de poesia convivendo junto ao poeta e, mais, alguém que tem os dois pés na música (José Otávio vive a surpreender a gente: além de músico, é um exímio fazedor de guitarras).
A poesia, como o mar em um poema de Rilke, nos devolve um autor que se preocupa em transitar entre tradição a contemporaneidade, depois de temporais e vastos desertos. O mais importante de tudo, talvez, é que nem ele, nem a poesia estejam preocupados com isso, e sigam seu destino entre guabijús e agapantos, a bolinar a linguagem desavergonhada.

Desacreditações Recreativas
José Otavio Carlomagno
Poesia
140 páginas
Editora Modelo de Nuvem
Gestão de Projeto: Tum Tum Produções
Finciamento: Financiarte Caxias do Sul
Preço: 22,00


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